sábado, 19 de março de 2011

Wilhelm Dilthey e a autonomia das ciências histórico-sociais


A principal consequência da Revolução Francesa foi a redescoberta da História. Ela vem apresentar-se, agora, do presente ao passado e do passado ao presente. Sob esta perspectiva, vem aprofundar a divisão dos homens entre revolucionários e conservadores, levando a história para outros rumos. Apresentam-se, portanto, cultuadores da história como a produção de um futuro e cultuadores da história como reprodução fiel do passado.
O período historicista vem trazer a revolução cultural da descoberta histórica, como fidelidade dos homens ao passado. Os historicistas avaliam a época, segundo seus próprios critérios e valores, sem se preocupar, contudo, com o critério das ciências naturais para ordenar todas as coisas em um padrão comum.
Dilthey focalizou a descoberta dos significados dos eventos a partir da perspectiva do sujeito que experimenta e ao mesmo tempo em que enfatiza que isso só poderia ser feito pelo envolvimento simultâneo do investigador. Por isto, a subjetividade do pesquisador e do sujeito que está sendo investigado está inerentemente interconectada nessa busca por significado. Isto leva a ‘redescoberta do EU no TU’; certamente uma linguagem que soa bem com a abordagem dialógica.
Há um inter-relacionamento aqui que precisa ser abraçado e honrado pelos pesquisadores. Nessa perspectiva, Dilthey conceituou o estudo da experiência humana como “ciência humana”, que contrasta com os métodos objetivos das ciências naturais.
O pensamento de Dilthey foi recebido com mais resistência do que aceito pela sua época. Os positivistas, claro, recusaram-no. Entretanto, é inegável como através do fenômeno da Revolução Francesa, ele redescobre os novos rumos e caminhos que a história iria percorrer. Antes, analisando os grandes feitos e eventos para interpretação do futuro sem realmente se preocuparem com o passado.
Dilthey vem por sua vez, junto com o historicismo, dar uma nova roupagem aos eventos e interpretação da sucessão de fatos. O passado agora é algo que é evidenciado como centro de todas as atenções nas análises da história. Para Dilthey foi bem mais do que um movimento intelectual e sim uma revolução cultural que pôde abranger várias outras áreas do conhecimento humano.

Ana Paula Jardim Martins.

terça-feira, 15 de março de 2011

Para refletir...


A ideologia tem sido estudada na busca da identificação de seu sentido, ligado à sustentação das relações de dominação inseridas nas relações interpessoais. Entretanto, definir o conceito de ideologia é partir do pressuposto de que existem inúmeras perspectivas teóricas para se apoiar. Então, a ideologia pode ser pensada como um conjunto de ideias organizadas e compartilhadas por um grupo afim. Assim como pode-se entender que seja um conjunto de ideias que distorcem a realidade e impõem as relações de dominação em determinado grupo.
Partindo para uma discussão mais profunda, observa-se ainda uma dimensão ideológica ‘material e concreta’ e outra ‘prática e dinâmica.’
As dimensões ideológicas estão tomando o espaço de tudo o que nos circunda. À exemplo de uma dimensão material e concreta, vêm-se as manifestações dos partidos políticos, a linha teórica da qual se apropriam para que se movimento, sua manifestação e seu partido tenham base verosímil. Assim como no material, o abstrato também tem lugar nas linhas ideológicas. E estas representações práticas e dinâmicas têm assustado bastante as nossas cabeças pensantes. À exemplo disto, estudamos como o consumismo tem sido imposto pela mídia o tempo todo à nós, nossos parentes, nossas crianças e jovens. Vale ressaltar que usam dos recursos mais simplórios para que o imaginário fique povoado de desejo e ambições. Exploram a criatividade das crianças para vender seus produtos fúteis e inúteis, à exemplo do laptop da XUXA, que consigo traz felicidade.
Não obstante, estamos cercados por essas imposições ideológicas e talvez nem paremos para nos ater à isto. Músicas, filmes, teatros, programas de televisão, novelas, propagandas, anúncios. Quaisquer manifestações da mídia trazem consigo a distorção da nossa realidade. Em trechos da música de Almir Sater e Renato Teixeira, ‘Tocando em frente, ’ nota-se claramente a representação do sentido negativo da ideologia.
‘Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs. ’ ‘Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. ’ Diz que cada um de nós compõe a sua história e a única certeza de que temos é de que nada sabemos, por fim. A distorção da nossa realidade nos deixou extremamente conformados e agora aceitamos essa ‘ideologia’, abaixamos a cabeça e agradecemos, já que não há nada melhor a ser feito por nós. A aceitação é a pior forma de derrota.

Ana Paula Jardim Martins.

terça-feira, 1 de março de 2011

Os Intelectuais na Idade Média

Ø  Renascimento Urbano e Nascimento do Intelectual no século XII:

Nesse tópico Le Goff aborda o surgimento do intelectual na idade média. A supervalorização dos clérigos, que estavam no topo da pirâmide intelectual, fazia deles capazes de assumir papéis momentâneos de professores, eruditos, escritores... Intelectual. Um homem dessa definição (intelectual) aparece juntamente com o surgimento das cidades a partir do desenvolvimento comercial e industrial.
O surgimento das cidades no Ocidente no século XII não se dá de forma instantânea, contudo sabe-se que sempre houve cidades no Ocidente, mas não possuíam mais do que poucos habitantes ao redor de um líder militar, administrativo ou religioso, com uma economia praticamente de subsistência.
Inspiradas pelo Oriente, que precisava para sua vasta (em comparação com o Ocidente da época) economia, dos produtos vindos do Ocidente, começou a se desenvolver o “portus”, que seria um embrião da cidade, alojado nas laterais das cidades e com certa autonomia. Todavia, tal “fenômeno” só toma maior dimensão no século XII, modificando profundamente as estruturas sócio-econômicas da época.
Além dessas “revoluções”, houve, também, a revolução cultural, a esses “surgimentos” e “renascimento” acrescenta-se outro, o “intelectual”.
Quanto ao ‘renascimento urbano do século VIII e meados do século IX, é de difícil aceitação, levando em conta os traços quantitativos que a “noção de renascimento carrega em si”. Ou seja, um renascimento elitista, destinado à monarquia clerical um poder político-administrativo.
Os livros são tidos como bens materiais para a Igreja e não como bem espiritual. Os monges copistas crêem que o primordial é a aplicação em escrever os livros, o tempo gasto, as fadigas e os padecimentos ao escreverem, em troca do céu.
Num tempo de cultura e economia fechada, o renascimento em vez de espalhar retém. “Haverá talvez um renascimento avaro?”. (p. 33)

Ø  Modernidade do século XII: Antigos e Modernos

Segundo os intelectuais da época, por seus escritos, “moderni” está sendo usada para designar os escritores do seu tempo. Contudo são modernos que não contestam o que é antigo, mas pelo contrário imitam os antigos. Nas palavras de Pierre de Blois:

Não se passa das trevas da ignorância para a luz da ciência a não ser que se releia com um amor sempre mais vivo as obras dos Antigos. Podem ladrar os cães, podem grunhir os porcos! Não diminuirei por isso minha admiração pelos Antigos. Deles serão sempre minhas preocupações e a aurora de cada dia vai me encontrar a estudá-los.
Todavia, posteriormente verão problemas advindos da introdução na cultura Ocidental e de traços antigos mal adaptados. Mestres clérigos (cristãos) deixam ensinamentos Eclesiásticos e Agostinianos em troca de Virgílio e Platão, colocando Eneida e o Timeu como obras científicas enquanto a Escritura e os Padres ficam em segundo plano. O intelectual é um profissional com materiais básicos: os antigos.

Ø  A contribuição Greco-Árabe

No século XII, as cidades eram responsáveis pelas idéias, pelas mercadorias, os pontos de troca, os mercados e o comércio intelectual. Os produtos raros vêm do Oriente, de Bizâncio, de Damasco, de Bagdá e de Córdoba.
O árabe é um intermediário numa instância inicial. A produção cristã fica em segundo plano nos estados latinos e o Islã, antes de qualquer coisa, é uma frente militar de combate. Significa então: “trocas de golpes, não de idéias e de livros.”
Os manuscritos gregos e árabes chegam a Palermo, onde os reis da Sicília e Frederico II com sua chancelaria trilingue (grego latim e árabe). Onde os tradutores têm muito que fazer.

Ø  Os tradutores

São os pioneiros a incorporar em si esse “renascimento”. O grego não é mais entendido e a língua científica é o latim. Os textos originais em árabe, ou versões gregas e vice-versa, são traduzidos por uma pessoa ou por uma equipe (mais comum).
Uma dessas equipes é formada pelo abade de Cluny, Pedro, O venerável. Com o propósito de traduzir o Alcorão. Pedro, o Venerável, foi quem concebeu a idéia de combater os mulçumanos; não na área militar, mas na área intelectual.
O abade disse:
“Quer se dê ao erro maometano o nome vergonhoso de heresia, ou de infâmia, de paganismo, é preciso agir contra ele, quer dizer escrever...
... Procurei então especialistas na língua árabe, que permitiu esse veneno mortal infestar mais da metade do globo. “Persuadi-os, à força de orações e de dinheiro a traduzir do árabe para o latim, a história e a doutrina desse infeliz e sua própria lei que se chama Alcorão”.
Então vemos que a tradução na época era algo importante para se conhecer a força da intelectualidade. O abade na luta contra o Islã disse:
“Mas os latinos e, sobretudo os modernos, segundo a palavra dos judeus que admiravam outrora os apóstolos poliglotas, não sabem outra língua além daquela de seu país natal. Assim não lhes é possível reconhecer a enormidade desse erro nem barrar-lhe o caminho.”
Ou seja, a vitória se dá no campo intelectual e não no campo militar. Mas para completar as lacunas deixadas na cultura Ocidental pela herança latina; necessitou-se da filosofia, as matemáticas, a astronomia, a medicina, a física, a lógica, a ética... Enfim, o método. Além da contribuição árabe com a aritmética e a álgebra, botânica, agronomia e alquimia.
Daniel de Morley, sedento de conhecimento, parte para Paris e vê uma estrutura decadente, enquanto suas vizinhas eram zonas de trocas desses conhecimentos Greco-árabes. Que fará mais tarde da França a primeira herdeira Greco-romana.

Ø  Paris: Babilônia ou Jerusalém?

Dentre todos esses centros de comércio e idéias, Paris é o “mais brilhante”. Repleta de mestres e estudantes, que possuem uma enorme independência. Professores, monges de várias denominações em suas catedrais e templos. Além de uma explosão do ensino teológico, também ao ramo da filosofia.
Paris seria um farol para os intelectuais e um túmulo para outros, onde se misturam a perversidade dos espíritos e a depravação filosófica. “Paris é a Babilônia moderna”.
Pierre de Celle diz:
“Ó Paris, como sabes arrebatar e frustrar as almas! Há em ti redes dos vícios, armadilhas dos males e flechas do inferno que perdem os corações inocentes...”
Sendo ponto de referência, Paris está inundada de todos os tipos de conhecimento; a partir de então os intelectuais urbanos se introduzem na cultura Greco-árabe, possibilitando o Ocidente tomar força intelectual. Fazendo, assim, que o espiritualismo monástico do Ocidente se voltasse para o misticismo do Oriente.
Esse processo acaba fazendo que os monges se retirassem do caminho e gerou uma crise interna entre os clérigos. E Paris de cativeiro – Babilônia – se torna a cidade prometida – Jerusalém – com a beleza e a eloquência que possui a ciência.

Ø  Os Goliardos

Nesse frenesi que vivia Paris, vem a tona um grupo que foi nomeado de Goliardos – inimigo de Deus -. Grande parte desse grupo está encoberto pelo anonimato e pelas lendas. Eles foram tratados como clérigos errantes, vagabundos, lascivos, boêmios; como também com ternura por outros.
Mas em geral, trataram-lhes com desprezo como arruaceiros e desafiadores da Ordem. Isso provocou, também, em muitos um sentimento diferente; vendo-os como revolucionários e simpatizavam com seus modos. Bastante contraditório, não?

Ø  A Vagabundagem Intelectual

A reminiscência dos goliardos traz a tona algumas características conflitantes ao sistema feudal, que imperava na época.
Considerados, ou até mesmo de fato eram: excluídos das estruturas sociais, eram um escândalo para as tradições da época. Fugitivos, estudantes pobres, criados domésticos dos afortunados ou mendigos; essas são as diversas situações em que eles se encontravam.
Buscando de cidade em cidade, migalhas de ensinamentos de alguns mestres, caracterizando a “vagabundagem intelectual” em seu jeito aventureiro, impulsivo e atrevido. Mas não é uma classe formada.
Trocaram os exércitos, as cruzadas, por essa vida. “O sonho deles é um mecenas generoso, uma gorda prebenda, vida folgada e feliz”.

Ø  O Imoralismo

Os mesmos personagens dos dois últimos tópicos, também é o desse.
A sociedade, principalmente os mais conservadores, os considerava imorais, devido ao seu estilo de vida. Jogo, vinho e amor, faziam parte desse estilo. Em suas próprias palavras:
... A beleza das moças feriu meu peito.
As que não posso tocar, eu as possuo de coração...

... Criticam- me em segundo lugar pelo jogo. Mas assim que o jogo
Me deixou nu e de corpo frio, meu espírito se aquece...

... Quero morrer na taverna
Onde os vinhos estejam próximos da boca do moribundo,
Depois os coros dos Anjos descerão cantando
‘Deus seja clemente com esse bom bebedor’...
Apesar de toda sua contribuição, os ensinamentos deles iam contra a moral natural daquela época. Queriam ser livres dos costumes, em linguagem e de espírito, mas chegam a ser libertinos.

Ø  A Crítica da Sociedade

As poesias goliárdicas, criticavam os representantes: eclesiásticos, nobres e até mesmo camponeses. Na Igreja preferem os “maiores”: o papa, o bispo, o monge.
Tal inspiração “anti-romana” dos goliardos é misturada com duas correntes: a gibelina, que “ataca, sobretudo as pretensões temporais do papado e apóia o partido do Império contra o sacerdócio”. Outra corrente é a mobilizadora que “critica no pontífice e na corte de Roma os compromissos com o século, o luxo, o gosto do dinheiro”.
O antigo comprometimento com a nobreza por parte da igreja se volta agora para os comerciantes. A partir desse ponto, o clero sofre constantes ‘bombardeios’ goliárdicos, para essa questão social da época.
Além dos nobres e clérigos, também despreza o camponês mais rústico e o considera: “miserável” “boçal” “maldito” “patifes” “mentirosos” “detestáveis” “infiéis”... O militar também era alvo para os goliardos.
Os goliardos expressavam sua disputa de gêneros segundo a afirmação de Le Goff, que diz:
Os goliardos crêem que o melhor modo de expressar sua superioridade frente aos feudais, é vangloriar-se dos favores de que gozam junto às mulheres. Elas nos preferem, o clérigo é melhor no fazer o amor do que o cavaleiro.
Contudo os goliardos foram empurrados à marginalização intelectual. Apesar de seus ensinamentos produzirem grande discussão, eles foram extintos no século XIII.

Ø  Abelardo

Considerado como a primeira grande figura de intelectual moderno (século XII). Bretão de Pallet do ano de 1079, pertencente à pequena nobreza.
Pedro Abelardo, desiste do ofício militar para dedicar-se à estudos, além de combates ideológicos e discussões apaixonadas que brotavam dele. Então era um guerreiro da cruzada intelectual, que é levado a Paris, onde promove mais críticas. O fruto das críticas o tornou mestre e seguido por pessoas a ouvi-lo. Abelardo adoece e sai de atuação para se recuperar na Bretanha, mas ao se restabelecer volta para Paris, reiniciando suas críticas.
Abelardo critica o maior mestre da época e o supera, tomando assim o seu lugar e se propõe estudar teologia com o maior teólogo da época: Anselmo. Contudo Abelardo achava Anselmo um homem vazio e de pouco conteúdo, com mais aparência do que inteligência; então resolve deixá-lo.

Ø  Heloísa

Abelardo já é um homem de meia idade com 39 anos e só conheceu o amor dos livros. Abelardo toma conhecimento da existência de uma menina de 17 anos, sobrinha de um confrade, bonita e culta. Para ele, ela era perfeita. Elaborou um plano de tê-la como aluna e consegue. Passa então a morar na casa da menina e entrega-se à paixão. Começam a se aventurarem um com o outro até serem surpreendidos. Abelardo tem que partir... Mas mantêm contatos secretos com Heloísa. Heloísa engravida então Abelardo, na ausência do confrade, leva a menina para a Bretanha, na casa de sua irmã, onde Heloísa dá a luz. Abelardo decide assumir seus atos e volta a casa da menina desejando se casar para a honra da família.

Ø  A Mulher e o Casamento no Século XII

Existia uma forte ideologia antimatrimonial no século XII. Para os goliardos a reivindicação – casamento – dos prazeres da carne servia de ilustração aos clérigos. “O intelectual tem a necessidade da mulher ao seu lado para se completar”.
Heloísa tenta convencer Abelardo a desistir do casamento, dizendo: “Não poderás ocupar-te com o mesmo cuidado de uma esposa e da filosofia”. Abelardo, contudo, recusa a aceitar a idéia de Heloísa e se casa em secreto. Porém tal ato gerou “mexericos”, que forçou Abelardo a planejar um meio de acabar com essa situação.
Heloísa seria levada a um convento até acabarem os rumores, mas Fulbert, o confrade, não acreditou nesse plano e mandou punir Abelardo com a castração.
Abelardo se põe na Abadia de Saint-Denis, onde queria esconder seu escárnio, mas sempre mantêm contato com Heloísa, que era sua eterna amante.

Ø  Novos Combates

Curado pela paixão intelectual, Abelardo volta à ativa intelectualidade e sua solidão é retirada pelos discípulos que o pede para retomar as aulas. Assim, Abelardo escreve seu primeiro tratado de teologia, para eles.
Reúnem um concílio para julgar Abelardo. Por fim o livro é queimado e Abelardo é condenado a passar o resto dos dias em um convento. Abelardo acaba fugindo e encontra esconderijo junto ao bispo de Troyes. Consegue um terreno pequeno onde se instala solitariamente em um oratório dedicado à Santíssima Trindade. Mas seu abrigo é descoberto e novamente os discípulos tiram sua solidão. Constroem uma aldeia escolar e o oratório é ampliado.
São Norberto e São Bernardo tramam contra Abelardo. E a perseguição dá a idéia de fugir para o Oriente. Abelardo é, então, aleito abade do mosteiro bretão. E as perseguições continuaram...

Ø  São Bernardo e Abelardo

Encabeçando seus inimigos, São Bernardo, campeão das armas de guerra, mas distante da cruzada intelectual, por isso sempre usa da força. São Bernardo então se encontra prontificado a combater as inovações “perigosas”. “Um grande inquisidor antes da Inquisição”.
Um antigo inimigo de Abelardo incita São Bernardo à combatê-lo, denunciando o “novo teólogo”. São Bernardo então vai a Paris e vê o “mal” causado por Abelardo.
Um dos discípulos de Abelardo propõe uma assembléia entre os bispos, teólogos e São Bernardo. Contudo São Bernardo transformou-a em concílio e julgam Abelardo como um “herege perigoso”, forçando Abelardo a apelar para o papa, mas São Bernardo agiu antes e conseguiu autorização do papa e os livros de Abelardo foram queimados.
Abelardo viaja para Cluny, onde Pedro, o Venerável, o reconcilia com São Bernardo e obtém o cancelamento da sua excomunhão.
Pedro Abelardo morre no convento de Saint-Marcel em 21 de abril de 1142.


Ø  O Lógico, O Moralista e O Humanista

Abelardo foi um lógico devido à filosofia e deixou um método. Grande dialético. “Todo o esforço da lógica deve consistir em proporcionar essa adequação significante da linguagem com a realidade que ela manifesta”.
Foi também um moralista, conhecedor da ética e sua importância. Contribuiu ricamente na subversão do sacramento de penitência para a “contrição do coração”.
Bradou a união da razão e da fé. Superando grandes teólogos como Santo Tomás e Anselmo.


Ø  Chartres e o Espírito Chartriano

Chartres é o centro científico da época, muito competente no Trivium (gramática retórica e lógica); mas preferia o Quadrivium (aritmética, geometria, música e astronomia).
Esse é o norteamento chartriano; curiosidade, observação, investigação e tudo mantido pela ciência Greco-árabe.
São exaltadas figuras do passado, símbolos do saber como; Salomão, Alexandre, Aristóteles, etc.
Contudo o espírito investigador vai se contrapor ao espírito racional dos chartrianos. A ciência tem que transpassar os fenômenos e aparências para penetrar as realidades.

Ø  O Naturalismo Chartriano

Pensa-se na força totalizadora da natureza. A natureza é criadora, é infinita de recursos eternos. Mas além dessa força, a natureza possui raciocínio.
Outro importante elemento é o otimismo, racionalizar o mundo. Ainda percebe-se uma antagônica discussão no quesito Natureza e Deus. Contudo valoriza-se o caráter racional da criação do mundo.

Ø  Humanismo Chartriano

Chartres coloca o homem na essência de sua ciência, filosofia e uma possível teologia. “O homem é o objeto e o centro da criação”.
É no homem que se atua a fusão da razão com a fé, que é fundamental para a época.
Os gregos e árabes contribuíram grandemente com esse espírito de racionalismo humanista.
Esse homem dotado de razão, compreensão da natureza e dele próprio, racionalmente unido a fé pelo Criador; é considerado pelos chartrianos como a integridade perfeita à ordem do mundo. O homem estava sendo homem.



Por Bruno Drumond Oliveira

AVALIAÇÃO FORMATIVA NO ENSINO SUPERIOR

reflexões e alternativas possíveis.
Olenir Mendes começa seu texto já abordando as formas de avaliação praticadas na atualidade e sua defasação para os processos de formação, além de propor novos moldes de avaliação mais eficaz e de grande importância no desenvolvimento educacional. Por isso ela apresenta uma série de sugestões para a integração e ajuste do Currículo de Educação. Podendo se levar em conta sua capacidade e experiência na área da educação.
A discussão aborda questões que norteiam as práticas avaliativas processuais e formativas que acompanham o desenvolvimento do aluno a partir de reflexões sobre a avaliação praticada no ensino superior.
No atual processo avaliativo encontram-se dificuldades de definição do conceito “desenvolvimento do aluno”, que tem sido medido pela matemática das respostas erradas e das respostas certas para lançamento de uma nota “objetiva”. Que levará à produtos como aprovação e reprovação, que para a prática tradicional é o fundamento do desenvolvimento educacional do aluno.
Em geral deve-se avaliar além dessa forma. Deve-se avaliar em observações diárias do processo de ensino-aprendizagem. No molde ensino-aprendizagem, percebe-se que há um retorno para ser levado em conta, a apredizagem, que ultrapassa a condição de apenas lecionar conteúdos, mas também observar se ele (o conteúdo) está sendo aprendido pelos alunos.
Assim a nota, aprovação e reprovação serão as consequências dos estudos e não mais uma motivação para eles (os estudos).
Para Olenir Mendes, as práticas avaliativas ainda realizadas nas escolas que enfatizam os “testes” que (aparentemente) medem, verificam e classificam a aprendizagem dos alunos, só contribui para uma subjugação complexa de controle e reprodução social. Por detrás desta forma avaliativa, usa-se de sutileza para impor os processos capitalistas para a infindação de um conjunto autoritário, estratificado, hierárquico e com desiguldades em graduação de níveis.
Então vê-se proposto uma “avaliação formativa”, que trabalha em cima de processos contínuos de avaliação, e mostra que a avaliação não pode ser feita apenas em dias pré-estabelecidos.
“Mudar a forma de avaliar implica repensar todo o processo pedagógico, bem como todo processo de definição do currículo que definimos no ensino superior.”(MENDES 2005, p. 178). Esse pensamento tem interesse em revolucionar todo o processo avaliativo e abrange “todo o processo pedagógico”.
A partir desses processos os professores podem tomar uma de duas posturas. A primeira seria “reforçar uma realidade social seletiva e excludente”, que segundo Olenir Mende, é o o processo em atual decorrência. A segunda é:
 “se mobilizar para construção de altrnativas de avaliação que visam uma educação efetivamente democrática, que não seja apenas aberta a todos e essencialmente reservada a uns poucos detentores da cultura dominante, mas de fato democrática no sentido de oferecer condições concretas de inclusão àqueles que se encontram excluídos.” (MENDES 2005, p. 179)
Compreende-se nesses parâmetros a necessidades de se produzir um novo paradigma de avaliação em que:
Ø   O professor compreenda os limites e as possibilidades da avaliação na sociedade capitalista;
Ø   Os aspectos formativos da avaliação sobreponham-se aos técnicos;
Ø   O processo de avaliar seja compreendido como prática de investigação e não de classificação, daí as práticas de apreciações devolutivas serem constantes;
Ø   O ato de avalir esteja aliado ao desenvolvimento pleno do aluno em suas múltiplas dimensões (humana, cognitiva, política, ética, etc);
Ø   A avaliação sirva à formação, à implementação de políticas públicas e, só posteriormente à certificação, dentre outras.

Maria Olenir Mendes - Avaliação no ensino superior. 2005

Por Bruno Drumond Oliveira

O conhecimento científico e o conhecimento vulgar

O conhecimento é algo inerente ao ser humano. Todo homem está sujeito ao conhecimento, pois no decorrer da vida está se deparando com algo de novo. Há várias formas de conhecimento, que estão subdivididas em pequenos grupos, porém todos esses subgrupos estão dentro de dois grandes grupos do conhecimento. O conhecimento científico e o conhecimento vulgar, também entendido por senso comum.
O conhecimento científico de acordo com Ruiz é uma contraposição ao modo empírico de conhecer, e a ciência é definida como conhecimento pelas causas. Tomando por base esse pensamento compreende-se que o conhecimento científico é produto de pesquisas esquematizadas de acordo com um método antes desenvolvido. Com o objetivo de se encontrar uma resposta verdadeira ou mais próxima da verdade, a ciência trabalha a partir do que é “concreto”, por isso é considerada uma desencantadora de mitos. Conhecimento científico pode-se dizer, é produto de estudos minuciosos.
Diferente do conhecimento científico, o conhecimento vulgar é segundo Alves, aquilo que não é ciência; como “receitas” pra o cotidiano, tais como: ideais e esperanças. Conhecimento vulgar é uma proposta de solução sem bases científicas, às vezes com bases lógicas e em outras com bases míticas e/ou místicas. É criado a partir do mesmo propósito da ciência, que é a necessidade de encontrar uma resposta para uma determinada questão, e em alguns casos até possui o mesmo resultado que a ciência apresenta, porém por meios simples e sem método de pesquisa.
Contudo, esses dois grandes grupos são de imensa importância para a sociedade. Não há descrédito no senso comum, pois este é em geral a base da ciência. A partir das indagações e conclusões do senso comum é que a ciência começa a agir. Portanto, ciência e senso comum são aliados na construção do conhecimento.

Por Bruno Drumond Oliveira

Análise: Cultura Política

O que é Cultura Política? Não há como definir uma expressão, que segundo dezenas de autores, é extremamente subjetiva. Talvez se refira ao conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão origem e significado a um processo político, evidenciando as regras e pressupostos nos quais se baseia o comportamento daqueles que os pratica. Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, cultura analisada etimologicamente, significa aplicação do espírito a determinado estudo ou trabalho intelectual; instrução, saber, apuro, perfeição e cuidado. Assim como cultura, o termo política foi analisado etimologicamente e apresenta a seguinte definição: ciência do governo das nações; arte de regular as relações do Estado com outros Estados. Sistema particular de governo. Modo de haver-se, em assuntos particulares, a fim de obter o que se deseja. Esperteza, finura, maquiavelismo. Portanto, todas as definições de cultura política serão subjetivas o bastante.
Ela faz parte de um contexto social, formado pelas diversas fragmentações de cada sujeito. Portanto, o coletivo não é definitivo. O contexto histórico acaba por assim dizer, determinando as culturas políticas de cada nação. Dentro deste país em que vivemos que é o Brasil, há diversas ‘culturas políticas’. Assim, a diferenciação das culturas políticas se dá a partir da motivação e realização de seus ideais, já que não possui apenas uma origem, requintada pelos povos Gregos. Assim como sua origem, todas as formas de culturas políticas têm um produto em comum que é o poder. A representatividade do poder é um dos diversos produtos das diversas culturas políticas.
No Brasil, a cultura política brasileira tem uma identidade bastante característica. Foi herdada dos portugueses e resignificada ao longo dos anos pelo povo brasileiro. Foi pouco fragmentada e é mantida até hoje com o mesmo espírito. Portanto, a política é sempre transitória. Não há espaço para muitos e há muitos para pouco espaço. O que move toda essa disseminação da política é o homem, dinâmico em sua própria natureza. A cultura política do brasileiro absorve muito da cultura histórica e cultural desse povo, forjando assim  nossa própria identidade político-cultural.
Por Ana Paula Jardim

Raça e História: Uma análise

O "pecado original da antropologia", para o autor, consiste na confusão entre noção puramente biológica e produções sociológicas e psicológicas das culturas humanas. Existem muito mais culturas humanas do que raças humanas. Observamos que este conceito de raça e cultura se difunde de tal forma a gerar preconceito unânime que define raça por características biológicas e psicológicas, enquanto temos ciência da existência de apenas uma raça que rege nosso espírito. Seria vão conseguir que o homem da rua renunciasse a atribuir um significado intelectual ou moral ao fato de ter a pele negra ou branca, o cabelo liso ou crespo, para permanecer em silêncio em face de outra questão, à qual a experiência prova que este se agarra imediatamente. O que se tem é a desigualdade e diversidade das culturas humanas.A diversidade adverte o autor, não deve ser "uma observação fragmentadora ou fragmentada": ela existe em função das relações que une os grupos, muito mais do que o isolamento destes.Não é possível por de lado, simplesmente, a diversidade que existe de fato porque não e possível admitir o homem realizando sua natureza numa humanidade abstrata. Ao contrario, o homem se realiza em culturas tradicionais e as modificações se explicam em função de situações definidas no tempo e espaço.
O autor traça uma diferença entre evolucionismo biológico do "pseudo evolucionismo", advertindo que quando se "passa de fatos biológicos para fatos culturais as coisas mudam". O evolucionismo biológico está provavelmente carreto para raças e animais, diz o autor, mas não tem a mesma relação na evolução social e cultural. Pois, argumenta Lévi-Strauss, como vamos desenterrar crenças, gostos de um passado desconhecido ou como vamos considerar que um machado dá origem física a outro machado? Devemos admitir uma concepção que distingue duas espécies de história para interpretar a diversidade: uma história progressiva, aquisitiva (aonde as descobertas e invenções são acumuladas para construir uma grande civilização) e outra história sem este dom sintético (ainda que ativa e talentosa).
A hipótese de uma evolução para hierarquizar culturas contemporâneas em inúmeros casos foi desmentida pelos fatos quando se pretendia estabelecer analogias.Do mesmo modo, os fatos demonstram que não se podem traçar esquemas para sociedades que nos precederam no tempo:"o desenvolvimento dos conhecimentos pré-históricos e arqueológicos tende a desdobrar no espaço formas de civilização que estávamos levados aimaginar como escalonadas no tempo", diz Lévi-Strauss para acrescentar em seguida que o progresso se da aos saltos, não linearmente, tendo sempre vários caminhos que pode percorrer.A História pode ser cumulativa, em alguns casos, o que "não é privilégio de uma civilização ou de um período histórico", diz o autor, exemplificando com a América, onde se desenvolveram culturas com História acumulativa.
O principal absurdo de considerarmos uma cultura superior a outra, diz Lévi-Strauss, consiste no fato de que a medida em que uma cultura esta sozinha ela elabora muito pouco de História acumulativa: "nenhuma cultura esta só; ela é sempre capaz de coligações com outras culturas, e é isso que lhe permite edificar séries cumulativas. A possibilidade que tem uma cultura de totalizar este conjunto complexo de invenções de todas as ordens que chamamos civilização e função do número e da diversidade das culturas com que ela participa na elaboração – na maioria das vezes involuntária – de uma estratégia comum."Não se pode portanto fazer uma lista das invenções particulares diz Lévi-Strauss, porque a verdadeira contribuição das culturas esta no afastamento diferencial que elas apresentam entre si; civilização implica coexistência de culturas que ofereçam entre si o máximo de diversidade, e consiste mesmo nessa própria coexistência."

LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. França: Unesco, 1952.

Por Ana Paula Jardim

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Roma em sua Gênesis

A fundação de Roma mistura mitos e fatos. Onde o imaginário construído para justificar uma civilização, se mistura com ocorridos verdadeiros. De acordo do Géza os registros de Roma foram datados no quarto século pós-fundação, ou seja, as suas bases não são dignas de grandes considerações pois já tinham uma carga ufanista. Contudo não tratava apenas de inverdades.
Grimal no livro A Civilização Romana, nos conta sobre a lenda de Rômulo e Remo, irmãos abandonados pelo seu pai, o deus Marte, a margem do rio Tibre, e amamentados por uma loba. São acolhidos por um casal de pastores (Faustulo e Larentia). Depois de adultos separam-se, Rômulo escolhe o berço de sua infância e Remo escolheu o outro lado do vale do Grande Circo no Aventino. Favorecido pelos deuses Rômulo vê doze abutres, enquanto seu irmão vê apenas seis. Esse era o sinal de que Rômulo edificaria a cidade e não Remo.
A cidade construída entre sete colinas (Aventino, Quirinal, Palatino, Viminal, Capitólio ou Capitolino, Célio e Esquilino), por Rômulo, contava com muros. Remo ao tentar transpassar os muros da cidade foi morto pelo seu próprio irmão, Rômulo, que queria manter a "inviolabilidade" de sua cidade.
Mitologicamente assim foi erguida a cidade de Roma, contudo Grimal diz: "É certo que os romanos não acreditam nesta história, mas aceitaram-na".
Géza, também não atribuiu a fundação de Roma por Rômulo, pois é mais mitológica do que histórica. Então propõe outra versão: - Havia habitantes locais: os latinos, sabinos, etruscos, terramarícolas, villanovianos, italiotas, etc. O desenvolvimento gradual desses povos possibilitou uma fundição processual de suas culturas que é datado de início do século VI a.C. quando estes povos viviam em cidades-estado. Essa corrente também é ilustrada por Grimal.
Quanto à corrente etrusca, Grimal e Géza apresentam aspectos ainda mais semelhantes. Roma foi dominada pela civilização etrusca, pois a síntese romana está impregnada com a essência estrusca: Modelo de governo, tradições religiosas, cultura e ainda grande parte da estrutura social.
Outro fator abordado por Géza foi a influência grega com o seu estabelecimento no sul da Itália. Influência essa que foi muito sentida na cultura, mas ainda afirma que a fundação de Roma deve-se aos etruscos.
A origem de Roma sempre será algo a ser estudado, pois todos os mistérios dessa civilização ainda está por se revelar. Há grandes perguntas e controvérsias sobre sua fundação.

Por Bruno Drumond Oliveira e Lorena de Souza Coutinho

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Bandeirantismo

“O bandeirantismo foi produto do descaso com  que Portugal se relacionava com a região do Brasil. Devido ao fracasso da cana-de-açúcar nessa região, a população se dirigiu interior adentro. As condições de vida eram precárias e miseráveis e, uma das saídas foi à exploração do sertão em busca do ouro.
O apresamento de índios para serem vendidos como escravos foi muito bem sucedido, pois sós engenhos do nordeste brasileiro sofriam com a falta de escravos já que o tráfico negreiro havia sido interrompido pela Espanha.
Com a retomada do tráfico os paulistas se acham novamente na crise, a mão-de-obra indígena perde o valor. Essa crise só é superada com a posterior descoberta do ouro, porém este produto passou a ser controlado pela Metrópole mantendo os paulistas na situação de extrema pobreza da qual viviam”.

ü Bandeirantismo

Quando ouvimos o termo “bandeirante” lembramos da imagem dos “heróis brasileiros”, “desbravadores”, “aventureiros”, “construtores épicos do Brasil”; contudo esse ufanismo está abalado na contemporaneidade.
A imagem de “construtores épicos do Brasil”, certamente foi a mais difundida no território nacional, porém a datação dos episódios é imprecisa, fragilizando as afirmações. Devem-se levar em conta, também, as produções historiográficas que surgiram depois da produção bandeirante realizadas sobre o Brasil como Colônia.
A análise dos bandeirantes de São Vicente e São Paulo de Piratininga seu desenvolvimento material e seus limites de movimentação.

ü São Vicente e São Paulo de Piratininga: O cenário histórico do bandeirante

Considerando um sentido mais amplo da colonização brasileira em: grandes latifúndios monocultores, mão-de-obra escrava e comércio externo; São Paulo causou certo impacto ao modelo mais geral. E esse impacto ajuda-nos à compreender o surgimento histórico dos bandeirantes.
A capitania de São Vicente não possuía condições naturais que contribuísse à ação colonizadora: faixa litorânea estreita e a má qualidade do solo eram alguns dos obstáculos encontrados pelo colonizador.
A vila criada em 1535 – São Vicente – não foi alvo de consideráveis alterações e era caracterizada pela precariedade da vida material. Com isso deu-se o processo de ocupação do planalto paulista, deixando São Vicente e Santos em segundo plano e quase foram extintos.
São Paulo possuía condições de defesas favoráveis, que um observador da época relatou em sua frase: “esta terra se pode defender com cem homens de cem mil”. Seis anos depois acrescentaram a São Paulo o vilarejo de Santo André da Borda do Campo, porém as condições naturais também não contribuíam, impedindo o plantio, a pesca e a criação de gado por falta d’água.
Dos colonos que vieram para São Paulo, à maioria era de agricultores, pecuaristas, mercadores e aventureiros em busca de oportunidades na colônia. Agriculturas canavieiras, de subsistência de frutas para doces e a pecuária, consistiram em pontos fortes da colonização. Principalmente a monocultura canavieira.
Já na metade do século XVII nota-se a presença de artigos de luxo, antes não encontrados, que poderia provir da marcha do ciclo de mineração. Mas o traço marcante de escassez não foi apagado.
Ainda na segunda metade do século XVII percebia-se a falta de qualidade de bens e de bens materiais como: escravos, transporte, comunicação, roupas, especiarias, cosméticos, etc. Apesar da mineração o colonizador se desenvolveu num cenário de extrema pobreza, penúria, escassez, etc.
Alguns dizem que São Paulo tinha uma riqueza mediana ou até estável riqueza. Contudo o contexto da construção de São Paulo não é esse, mas o contrário, pobreza extrema. A prosperidade paulistana só foi avistada com a produção cafeeira.
Foi nessa condição particular de São Paulo que surgiu o bandeirante: ensinado a fazer da vida uma “aventura” à caça de escravos nos sertões.

ü As Bandeiras: Solução de urgência para a pobreza paulista

A população de São Paulo não podia contar com um enriquecimento dado pelo empreendimento da colônia. O bandeirante, então, foi o produto de uma região à margem do desenvolvimento. Com a vida sem bens materiais e a vida econômica limitada, eles buscaram lucros rápidos com a caça ao índio, aos metais e as pedras preciosas, sempre em outro quadro que não fosse a agricultura.
O nome bandeiras era de uma denominação militar que servia para defender os colonos, até mesmo dos índios. Contudo os bandeirantes se transformaram em ‘paramilitares’ de ataque; e devido ao processo de militarização ocorrido entre os bandeirantes o governador D. Francisco de Souza aprova a decisão de militarizar os homens de quatorze anos acima, incluindo os índios.
A expedição era comandada por um homem branco que possuía poderes absolutos sobre seus subordinados, escravos e índios. Os índios e escravos eram os “batedores” e “coletores”, o capelão era uma espécie de autoridade espiritual ligado à Igreja, que também era um dos participantes; usado para legitimar a expedição pela Igreja, e o número de membros variava muito, desde quinze homens até centenas.
Os bandeirantes levavam pólvora, machados, balas, cordas – para amarrar os índios apreendidos – sementes, sal e um pouco de alimentos. Comumente partiam na madrugada e pousavam ao entardecer e durante o dia caçavam, pescavam, coletavam frutos, extraiam palmito e mel. Andavam pelas trilhas indígenas e pelos rios com canoas improvisadas.
As viagens duravam meses e até anos, e com toda a prática adquiriram um conhecimento das matas e chegavam a ser “habilidosos como os próprios animais”. Ao que indica, eles caminhavam descalços, chapelão de abas largas, a camisa, a ceroula e os gibões de algodão alcochoados para anteparo das flechas dos índios.
A geografia contribuiu para o movimento dos bandeirantes, devido à posição de São Paulo que era centro fluvial e terrestre ou como a expressão diz: “boca do sertão”. Havia varias passagens dentre rios, córregos, estradas planas, morros e serras que possibilitava a entrada nas minas. Além de tudo, São Paulo possuía contato com o mar, o que após os anos se tornou um canal para fluxo de comunicação e do complemento necessário.

ü Escravidão indígena e violência: O Bandeirantismo de apresamento


Antes da colonização oficial, os colonos praticavam escambo utilizando os “prisioneiros de guerra” nativos. Porém, só quando houve início efetivo da colonização, com a necessidade de mão-de-obra para o trabalho nas lavouras é que levou o colonizador a capturar indígenas.
Apesar de receberem autorização da parte de D. João III para aprisionar os nativos, muitos desses nativos colaboraram espontaneamente. Mesmo com as colaborações indígenas os colonizadores se opuseram à missão jesuíta – que defendia e protegia o índio – com ataques violentos as comunidades e cometendo genocídios em série, fator que levou o índio a evitar contato com o colonizador e se refugiar no sertão.
A função bandeirante era de “ir buscar” os índios nos sertões, contudo o bandeirante usava de violência excessiva e de grande brutalidade. Em 1570 o rei proibiu a cativação do índio, exceto os tomados em uma “guerra justa”.
Outra lei foi em 1591, dando poderes aos padres de ‘buscar’ os índios no sertão e a distribuição deles no litoral. Mas anteriormente e até mesmo depois houve conflitos entre colonizadores, jesuítas e indígenas.
As novas formas de lei, ainda eram burladas pela “manha e malícia” portuguesa, assegurando a mão-de-obra escrava.
Por sua vez o jesuíta introduzia o índio à religião católica, contudo os antigos abusos consistiram em pagamento de tributo e no caso índio deveria ser com força de trabalho, o que acabava sendo como a escravidão. O preceito de ‘guerra justa’ era malicioso, violento e só serviu para legitimar a cativação do índio.
Os bandeirantes da região do Tietê dizimaram os tupiniquins, a partir de então, começou uma nova fase bandeirante caracterizada pela expansão da extensão geográfica do espaço e em conseqüência o aprisionamento em larga escala de índios. Que permitiu os portugueses traficarem escravos indígenas com os espanhóis.
Quanto a disposição das terras, fazia-se loteamentos em que cada família indígena produzia e a safra ia para um armazém comum, que era usado no sustento de padres, funcionários, artesãos e dos que eram sustentados pelo trabalho coletivo. Os colonos divisaram a ordem jesuíta com uma subversão da ordem, em que o índio devia se submeter ao colonizador, que o queria como escravo. Com a união da Espanha com Portugal, sob o comando dos Felipes, a penetração dos bandeirantes foi facilitada e o combate aos jesuítas aumentou o que levou muitos jesuítas a se corromperem e a fazer das missões uma fonte de abastecimento de índios para os colonos.
No entanto os livros sobre história do Brasil não apresentam esse discurso sobre os bandeirantes e cultiva a imagem heróica – salvo alguns poucos manuais –. Alguns historiadores dizem que se vivia em tempos violentos e que as crueldades eram naturais e que se vivia uma política expansionista.
No início da construção historiográfica os relatos dos jesuítas assumiram o segundo plano, pois “havia perdido o seu caráter de denúncia”. Percebe-se um contraste marcante entre os relatos dos jesuítas e dos colonizadores.
Usou-s de muitas formas de dominar os indígenas, o escambo – porém não surtiu grande efeito – a agricultura – que alterou bruscamente o sistema do índio que foi sedentarizado para que ficasse sob domínio do colonizador.
Em geral, desde o início o colonizador não desenvolveu nenhum meio, além de escravizar ou isolar o indígena. E sob as condições em que viviam eles reagiam de três formas: fugas – a mais comum – revoltas  e até mesmo o suicídio.

ü Novas tentativas de fortuna: O ouro das gerais

O período do ouro nas minas gerais está associado ao bandeirantismo, pois São Paulo queria uma nova tentativa de acabar com a extrema pobreza da sociedade, assim a busca pelos metais.
Antes dos grandes achados de metais e pedras preciosas os portugueses já tinham certa convicção de encontrá-los. Quanto a sua localização, imaginava-se que seria próxima das fronteiras, desse modo deveria haver a penetração pelos sertões.
Corriam notícias de alguns achados de ouro e pedras em Porto Seguro e realizaram expedições que foram até as terras da Amazônia, porém não se encontrou grande coisa e os métodos ainda eram rudimentares.
Inicia-se então um período de pesquisa de metais para suprir as dívidas de Portugal como: o tratado de Methuen com a Inglaterra.
As grandes descobertas começaram depois da expedição de Fernão Dias a região onde hoje é Ouro Preto, Mariana. O que ocasionou um grande êxodo, não só de colonos como também de estrangeiros em busca do metal dourado. Enriquecendo, assim, Portugal e alguns poucos “grandes homens”.

ü A questão do herói bandeirante

Muito ainda se ouve a expressão de herói bandeirante, que é apoiada em diversos autores que afirmam a importância do processo dado pelas bandeiras em comunhão com o Estado para o desenvolvimento social, econômico e cultural da colônia.
Contudo sabe-se da violência por eles cometida, a sobreposição de cultura, o interesse mais digno de nome pessoal do que comunitário entre outros fatores.
Como diz o próprio autor, Carlos Henrique Davidoff:
“A rigor – e basta examinar os textos para se criticar – a construção da figura do herói bandeirante só avançou na proporção exata em que se encobriu ou descartou a questão da violência cometida contra grupos locais, abrindo caminho, deste modo, para que se exaltasse a idéia de expansão territorial e heroísmo, desvinculando-a da interpretação de seu verdadeiro contexto histórico e social do século XVII, que necessariamente envolve a consideração do destino que sofreu a população indígena que esteve sob a área de ação das bandeiras.”




Referências: 
DAVIDOFF, Carlos Henrique. Bandeirantismo: verso e reverso. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1998.
Por Bruno Drumond Oliveira