terça-feira, 1 de março de 2011

Raça e História: Uma análise

O "pecado original da antropologia", para o autor, consiste na confusão entre noção puramente biológica e produções sociológicas e psicológicas das culturas humanas. Existem muito mais culturas humanas do que raças humanas. Observamos que este conceito de raça e cultura se difunde de tal forma a gerar preconceito unânime que define raça por características biológicas e psicológicas, enquanto temos ciência da existência de apenas uma raça que rege nosso espírito. Seria vão conseguir que o homem da rua renunciasse a atribuir um significado intelectual ou moral ao fato de ter a pele negra ou branca, o cabelo liso ou crespo, para permanecer em silêncio em face de outra questão, à qual a experiência prova que este se agarra imediatamente. O que se tem é a desigualdade e diversidade das culturas humanas.A diversidade adverte o autor, não deve ser "uma observação fragmentadora ou fragmentada": ela existe em função das relações que une os grupos, muito mais do que o isolamento destes.Não é possível por de lado, simplesmente, a diversidade que existe de fato porque não e possível admitir o homem realizando sua natureza numa humanidade abstrata. Ao contrario, o homem se realiza em culturas tradicionais e as modificações se explicam em função de situações definidas no tempo e espaço.
O autor traça uma diferença entre evolucionismo biológico do "pseudo evolucionismo", advertindo que quando se "passa de fatos biológicos para fatos culturais as coisas mudam". O evolucionismo biológico está provavelmente carreto para raças e animais, diz o autor, mas não tem a mesma relação na evolução social e cultural. Pois, argumenta Lévi-Strauss, como vamos desenterrar crenças, gostos de um passado desconhecido ou como vamos considerar que um machado dá origem física a outro machado? Devemos admitir uma concepção que distingue duas espécies de história para interpretar a diversidade: uma história progressiva, aquisitiva (aonde as descobertas e invenções são acumuladas para construir uma grande civilização) e outra história sem este dom sintético (ainda que ativa e talentosa).
A hipótese de uma evolução para hierarquizar culturas contemporâneas em inúmeros casos foi desmentida pelos fatos quando se pretendia estabelecer analogias.Do mesmo modo, os fatos demonstram que não se podem traçar esquemas para sociedades que nos precederam no tempo:"o desenvolvimento dos conhecimentos pré-históricos e arqueológicos tende a desdobrar no espaço formas de civilização que estávamos levados aimaginar como escalonadas no tempo", diz Lévi-Strauss para acrescentar em seguida que o progresso se da aos saltos, não linearmente, tendo sempre vários caminhos que pode percorrer.A História pode ser cumulativa, em alguns casos, o que "não é privilégio de uma civilização ou de um período histórico", diz o autor, exemplificando com a América, onde se desenvolveram culturas com História acumulativa.
O principal absurdo de considerarmos uma cultura superior a outra, diz Lévi-Strauss, consiste no fato de que a medida em que uma cultura esta sozinha ela elabora muito pouco de História acumulativa: "nenhuma cultura esta só; ela é sempre capaz de coligações com outras culturas, e é isso que lhe permite edificar séries cumulativas. A possibilidade que tem uma cultura de totalizar este conjunto complexo de invenções de todas as ordens que chamamos civilização e função do número e da diversidade das culturas com que ela participa na elaboração – na maioria das vezes involuntária – de uma estratégia comum."Não se pode portanto fazer uma lista das invenções particulares diz Lévi-Strauss, porque a verdadeira contribuição das culturas esta no afastamento diferencial que elas apresentam entre si; civilização implica coexistência de culturas que ofereçam entre si o máximo de diversidade, e consiste mesmo nessa própria coexistência."

LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. França: Unesco, 1952.

Por Ana Paula Jardim

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